Com dinheiro de IPOs, fusões e aquisições ganham força e sinalizam recorde em 2021

30/07/2021

Depois do recorde no número de fusões e aquisições no primeiro trimestre deste ano, o mercado segue aquecido e dá sinais de que pode fechar 2021 com o melhor resultado da história. A compra da Hering pelo grupo Soma, dono da Farm e da Animale, e da Hapvida pela NotreDame Intermédica foram apenas alguns exemplos de movimentações no mercado de fusões e aquisições neste ano. Mas por que isso está acontecendo?

“Neste ano, estamos vivendo uma janela conjuntural muito positiva, em que as empresas levantaram bastante dinheiro com os IPOs. Muitas já sinalizavam que esse valor seria usado em boa parte para potencial compra de outras empresas”, afirma Luis Frota, sócio da Bain & Company. Para ele, algumas empresas conseguiram melhorar os negócios durante a pandemia, o que deu mais forças para ir às compras no mercado.

Em 2020, a expectativa era de realização de 50 IPOs, mas foram realizados apenas 28, segundo a Deloitte. As empresas adiaram a abertura de capital e 41 anunciaram intenções de buscar os IPOs ainda neste ano.

Um estudo da Deloitte aponta que o volume de transações ficou estável no ano passado, mas menor do que as previsões otimistas do mercado. “Os setores particularmente afetados no Brasil foram manufatura, transporte e automotivo, consumo e serviços financeiros. Os setores que, em contrapartida, apresentaram pouca sensibilidade e tiveram desempenho robusto incluem tecnologia, mídia e telecomunicações, saúde, agronegócio e real estate“, afirma o trabalho.

As operações desaceleraram entre abril e agosto pelo número de casos de covid, mas voltaram com força a partir de setembro, impulsionadas por um cenário de juros baixos, alta liquidez e pelo boom de IPOs.

Se antes as companhias compravam outras para aumentar a escala, hoje estão mais focadas em ampliar seu escopo. “Já tínhamos mapeando um crescimento de fusões de escopo, o que significa que empresas estão tentando comprar expertise externa para aplicar na sua operação. Acontece muito com companhias pequenas de tecnologia, por exemplo”, afirma Frota.

“Tudo isso aliado com uma liquidez grande do mercado. Cenário de juros baixos, de facilidade de levantar capital seja em follow-on ou dívidas”, afirma Frota.

Apesar das incertezas desacelerarem o mercado, houve quem continuou as transações justamente para se adequar à nova realidade. “Houve uma aceleração das transações pela pandemia, porque era uma questão de sobrevivência para as empresas atuarem no digital. Se a empresa pretendia ir para o digital em três anos, precisou ir muito mais rápido e comprar outras empresas gera uma vantagem competitiva”, afirma Luis Motta, sócio da KPMG.

Luiz Gustavo Mesquita, advogado especialista em fusões e aquisições e sócio do escritório Orizzo Marques Advogados, diz que o mercado nunca explode, mas que tem um crescimento linear. “Quando a economia está boa, tem gente querendo comprar. A tendência agora é crescer cada vez mais”, afirma.

Quais os setores de destaque? Segundo uma pesquisa da KPMG, o maior número de fusões e aquisições no primeiro trimestre do ano aconteceram nos setores de empresas de internet, tecnologia da informação, instituições financeiras e serviços para empresas.

Já um levantamento da Deloitte apontam quais os setores que chamam mais a atenção das empresas que pretendem investir em fusões e aquisições:

  • Tecnologia: 41%
  • Fabricação: 24%
  • Saúde: 17%
  • Negócios de consumo: 16%
  • Infraestrutura: 13%
  • Serviços financeiros: 13%

O que o consumidor final tem a ver com isso? Normalmente, as operações beneficiam o cliente, melhorando os produtos e serviços oferecidos ou a experiência de compra.

“De modo geral, tendem a ser mudanças positivas ao consumidor final assumindo que não haja nenhum problema concorrencial, que o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) olha com bastante cuidado”, diz Frota. Antes de fechar qualquer negócio, as empresas precisam do aval do órgão regulador, que avalia se a fusão não se configura como monopólio ou traz algum prejuízo à sociedade.

Para Motta, os principais benefícios são ganho de escala, de eficiência, aplicação de boas práticas e tecnologias mais avançadas.

Qual o cenário para os próximos meses? De confiança e alto volume de negociações, com potencial para recorde ao final do ano. Frota diz que as grandes empresas estão apostando nas fusões e aquisições, principalmente comprando pequenas companhias, com medo de perderem boas oportunidades, caso a concorrência aja antes.

Mesmo com um cenário de alta de juros, isso não deve atrapalhar as negociações. “A subida dos juros já estava na conta, não tende a atrapalhar de maneira grande a tendência de curto prazo. O que pode atrapalhar é qualquer choque de liquidez muito forte”, afirma Frota.

O estudo da Deloitte considera que o Brasil deve continuar sendo um dos principais atores globais do mercado de fusões e aquisições e diz que 71% dos entrevistados estão ativamente buscando atividade em operações de fusões e aquisições em 2021.

“Há um enorme potencial no mercado devido aos unicórnios emergentes nos setores de tecnologia, bancos e real estate. Combine isso a uma taxa de câmbio atraente e aos aumentos previstos de valor de ativos e o Brasil poderá contribuir significativamente com o montante global de IPOs, transações e volumes de negócios ao final de 2021 e em 2022”, afirma o estudo.

Luiz Gustavo Mesquita

Publicado em UOL

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