Briga com Oswaldo trava verba de acordo para salários em dia no Botafogo; precedente preocupa
27/08/2021
A saída do Ato Trabalhista é o maior problema, mas está longe de ser o único que o Botafogo enfrenta na hora de encarar os erros do passado. Por conta de uma briga judicial com o técnico Oswaldo de Oliveira, o clube vê em risco o acordo com o poder público que garante os salários em dia.
Há apreensão porque Oswaldo conseguiu bloquear parte da venda de Paulo Victor para o Internacional, apesar da ação civil pública (ACP) que garante preferência para pagamentos de salários em relação a outras penhoras na Justiça. Esse acordo foi firmado com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e o sindicato da categoria e autorizado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (TRT-1). Acontece que o mesmo tribunal também deu ganho de causa ao treinador em outro processo.
A guerra judicial empacou cerca de R$ 500 mil, que seguem na Justiça. Mas, por enquanto, o técnico está na frente na corrida. Isso porque o MPT teve negada liminar para tornar a autorização ilegal. O mandado de segurança ainda será julgado. Enquanto isso, o dinheiro segue parado.
Meio milhão de reais podem não parecer tanto no universo de quase R$ 40 milhões anuais que o Botafogo gasta apenas com salários, só que não é bem assim. O grande receio é o precedente que Oswaldo pode abrir para outros credores que estão parados na fila por conta do acordo. Só o fato de o tribunal autorizar a briga já foi suficiente para aumentar e muito o ímpeto desse grupo.
O Botafogo defendeu o acordo que amenizou o impacto negativo da pandemia. Ao ge, o clube criticou Oswaldo e outros credores que não aceitam esperar mais para receberem o que têm direito, apesar do momento considerado de exceção.
Mas quem tem dinheiro a receber e não bate mais ponto no clube pensa diferente. O outro lado defende que é impedido de conseguir quantias valiosas e pelos mesmos motivos dos funcionários: salários não pagos e outras verbas trabalhistas.
Para tentar driblar outra vez esses credores, clube, sindicato e MPT tentaram remodelar o acordo para incluir mais receitas do clube. Ao invés de 20% de algumas fontes, como vendas de jogadores, a penhora passaria para um mínimo de 40%. Só que a Justiça ainda não aceitou porque espera a definição de outro problema: a decisão sobre uma execução que beira os R$ 100 milhões por conta da exclusão do Ato Trabalhista.
Tribunal tem chance de dar norte
Especialistas consultadas pela reportagem concordaram ao afirmar que o acordo é legítimo, mas corre risco de perder a validade prática a depender do desfecho no tribunal. Somente a disputa que travou o dinheiro na Justiça já é motivo para atiçar outros credores. Só que, por outro lado, a briga em si dá oportunidade de “pacificar” a questão.
A advogada Fernanda Garcez, mestra em Direito do Trabalho pela PUC-SP e sócia do Abe Giovanini Advogados, explica que o acordo não é comum, foi pensado para o momento de dificuldades da pandemia e faz sentido justamente pelo tempo já delimitado.
Para a ação se manter viável, o resultado do próximo julgamento é fundamental. Mestra em Direito do Trabalho pela Universidade de São Paulo e sócia do Orizzo Marques Advogados, Ursula Cohim aponta que o tribunal tem a chance de mostrar o caminho não só para o litígio entre Botafogo e Oswaldo, mas também para as outras tentativas nesse período.
Ursula Cohim Mauro